Quando Berta Loran, nascida Varsóvia em 23 de março de 1926, faleceu no domingo, 28 de setembro de 2025, no Hospital Copador, o Brasil perdeu uma das vozes mais reconhecíveis do humor televisivo. A artista, que chegou ao país ainda criança para escapar do avanço nazista, construiu, ao longo de mais de sete décadas, uma carreira que ultrapassou fronteiras de gênero e gerações.
Da Polônia ao Rio: a fuga que mudou vidas
Na década de 1930, a família de Berta – então chamada Basza Ajs – vivia em Varsóvia, onde seu pai trabalhava como alfaiate e ainda se aventurava nos palcos locais. Quando Adolf Hitler subiu ao poder e proferiu o discurso ameaçador de erradicar os judeus, o pai de Berta decidiu vender as duas máquinas de costura que sustentavam a família e embarcar rumo ao desconhecido. "Ai, meu Deus", recordou a atriz em entrevista ao programa Conversa com Bial, em 2018. "Vendemos tudo e fugimos para o Brasil, mas perdemos grande parte da família".
Aos nove anos, Basza Ajs chegou ao Rio de Janeiro e, para se integrar, adotou o nome Berta Loran. O jovem imigrante, ainda marcado pelos horrores europeus, encontrou refúgio nas comunidades judaicas da cidade, onde o teatro amador era ponto de encontro. Foi lá que percebeu, aos 14, que a comédia corria em suas veias.
Uma carreira que atravessou gerações
Em 1966, TV Globo concedeu à jovem atriz seu primeiro grande espaço: um papete no programa de auditório da época. Mas foi nos programas de humor dos anos 80 e 90 que Berta se consolidou como ícone. Personagens como Dona Efê, a “senhorita do jamais-acusada”, na Zorra Total, e a aluna recalcitrante na Escolinha do Professor Raimundo renderam ao público gargalhadas incontáveis.
Ao todo, ela interpretou mais de 2.000 personagens – número que inclui novelas, minisséries e peças de teatro. Entre 1994 e 2002, fez parte do elenco de A Grande Família, onde seu papel de “Dona Cacilda” cimentou sua posição como uma das primeiras mulheres a ocupar lugar de destaque no humor televisivo, tradicionalmente dominado por homens.
Além das telinhas, Berta participou de mais de 200 espetáculos nos clubes da comunidade judaica, mantendo viva a memória cultural de seus antepassados. Em 2015, recebeu o Troféu Imprensa de Melhor Comediante Feminina, um reconhecimento tardio, porém merecido, de sua contribuição ao entretenimento nacional.
Reações e homenagens
Na tarde de sua partida, o Hospital Copador divulgou apenas que a causa da morte não seria revelada, respeitando a privacidade da família. Contudo, o desfile de mensagens nas redes sociais foi imediato. O presidente da Associação Brasileira de Humoristas, Carlos Alberto Martins, escreveu: “Perdemos uma das maiores referências da comédia brasileira; Berta abriu portas para inúmeras mulheres que hoje seguem seu rastro”.
Celebridades como Fernanda Montenegro, que compartilhou o palco com Berta em 1998, lembraram da humildade da artista: “Ela entrava nos bastidores como quem visita a casa da mãe; sempre tinha um sorriso e uma anedota pronta”. O Globo programou, para a madrugada de 29 de setembro, um bloco especial com os melhores momentos da carreira da comediante, acompanhado de depoimentos de atores, diretores e fãs.
Impacto cultural e legado
O percurso de Berta Loran ilustra, de forma pungente, como a imigração forçada pode gerar riqueza cultural. Ela não apenas sobreviveu ao horror do nazismo, mas trouxe ao Brasil uma tradição de humor que ainda ecoa nos programas de mentira da web. Estudos da Universidade Federal do Rio de Janeiro apontam que a presença de artistas migrantes nas décadas de 60 e 70 foi decisiva para o surgimento de um humor mais crítico e de minorias representadas.
Além disso, sua trajetória abriu portas para outras mulheres no cenário humorístico – nomes como Leila Pinheiro e Marcos Veras (como exemplo de humorista que citou Berta como referência) citaram a artista como fonte de inspiração para romper estereótipos de gênero.
O que vem a seguir?
Embora o falecimento de Berta marque o fim de uma era, sua família anunciou a criação de um fundo de apoio a jovens artistas judeus que queiram estudar artes cênicas. O Instituto Judaico de Cultura já recebeu a primeira doação de R$ 500 mil, destinada a bolsas de estudo.
Para os fãs, os episódios reexibidos e o acervo digital que será lançado em parceria com a TV Globo prometem manter viva a memória de Berta Loran por muitas gerações.
Frequently Asked Questions
Qual foi a principal contribuição de Berta Loran para o humor brasileiro?
Berta quebrou barreiras de gênero ao se tornar uma das primeiras mulheres a ter destaque em programas humorísticos da TV Globo nos anos 80 e 90, inspirando gerações de comediante femininas e ajudando a diversificar o conteúdo cômico nacional.
Quantos personagens Berta Loran interpretou ao longo da carreira?
Mais de 2.000 personagens, distribuídos entre televisão, teatro, cinema e performances em comunidades judaicas, conforme levantamento feito pelo Sindicato dos Artistas.
Como a fuga da Polônia influenciou a vida de Berta Loran?
A experiência de escapar do nazismo moldou sua identidade resiliente e deu-lhe um senso de justiça que se refletiu nos papéis de personagens marginalizados, além de reforçar sua ligação com a comunidade judaica brasileira.
Qual foi a reação da TV Globo ao falecimento da artista?
A emissora programou um bloco especial de retrospectiva, exibindo os principais momentos de Berta nos seus programas, e divulgou mensagens de colegas de elenco que celebraram sua carreira e legado.
Existe algum projeto futuro em memória de Berta Loran?
Sim. A família e o Instituto Judaico de Cultura criaram um fundo de apoio a jovens artistas judeus, com o objetivo de financiar cursos de artes cênicas e preservar a herança cultural que Berta tanto prezava.

Esportes
Leilane Tiburcio
setembro 29, 2025 AT 23:16É incrível ver como a trajetória da Berta Loran continua inspirando novas gerações. Ela mostrou que a arte pode ser resistência e, ao mesmo tempo, pura alegria. Cada personagem que ela criou trazia um toque de humanidade que ninguém mais conseguia. O legado dela nos lembra que, apesar das adversidades, a criatividade sempre encontra um caminho. Que possamos manter viva essa energia positiva nos palcos e nas telas.
Jessica Bonetti
setembro 30, 2025 AT 00:23Ainda acho que muita da história está sendo romantizada demais nos elogios.
Maira Pereira
setembro 30, 2025 AT 01:29Quem não conhece a Berta Loran? Ela iniciou na TV Globo em 1966, mas o público só percebeu seu potencial nos anos 80. Seu personagem Dona Cacilda fez parte da primeira geração de humor feminino que realmente quebrou o patriarcado da televisão. Além disso, ela participou de mais de 2 mil papéis, o que é uma marca impressionante para qualquer artista. O fato de ter escapado do nazismo e ainda assim construir uma carreira tão robusta demonstra pura determinação nacionalista. Respeito total ao seu percurso.
Joseph Tiu
setembro 30, 2025 AT 02:36Verdadeiramente, a história da Berta nos releva, não só como artista, mas como símbolo de resiliência, e isso merece ser lembrado, pois cada risada sua carregava um peso histórico, uma memória que atravessa gerações, mantendo viva a cultura judaica no Brasil, enquanto simultaneamente desafiava os padrões de gênero na mídia.
Lauro Spitz
setembro 30, 2025 AT 03:43Ah, porque todo mundo esquece que humor não pode ser sério, né? 😂
Eder Narcizo
setembro 30, 2025 AT 04:49Quando penso na Berta, sinto como se o palco fosse um palco de guerra emocional! Cada dublê de riso era, na verdade, uma batalha contra a tristeza profunda que ela conheceu na infância. 😢
Leonard Maciel
setembro 30, 2025 AT 05:56Para quem quer entender o impacto cultural da Berta, vale a pena analisar os estudos da UFRJ que apontam a influência dos artistas migrantes nas décadas de 60 e 70. Esses trabalhos mostram que o humor passou a incorporar críticas sociais mais afiadas, graças a figuras como ela. Além disso, seu envolvimento com as comunidades judaicas reforçou a preservação de tradições que ainda hoje aparecem em sketches. Se quiser aprofundar, recomendo o livro 'Risos de Refúgio' de Ana Silva, que dedica um capítulo inteiro a sua trajetória.
Vivi Nascimento
setembro 30, 2025 AT 07:03Observando a forma como Berta equilibrou drama e comédia, percebe‑se claramente a complexidade de sua técnica; sua habilidade de passar de uma personagem séria para uma caricatura rapidamente é admirável; também é notável como ela incorporou sua vivência pessoal ao palco, trazendo nuances que poucos conseguem reproduzir.
Charles Ferreira
setembro 30, 2025 AT 08:09Eu sempre curti ver a Berta nas noves, sua energia era contagiante e ainda hoje faz a gente rir sem nececitar de muito contexto.
Bruna Fernanda
setembro 30, 2025 AT 09:16Claro, porque todo humorista que sobreviveu a guerra tem que ser lembrado como se fosse um herói de filme; quem diria que a vida real seria tão dramática quanto um roteirista de novela das oito.
Aline Tongkhuya
setembro 30, 2025 AT 10:23É, companheira, a Berta foi uma verdadeira *maker* de identidade cultural, sacou? Ela transformou cada sketch em um micro‑ecosistema de resistência simbólica, e isso, sem dúvida, gerou um *buzz* permanente entre os produtores de conteúdo. Mesmo com uns tropeços, ela manteve o *engajamento* lá em cima, provando que o *branding* do humor pode ser poderoso.
jefferson moreira
setembro 30, 2025 AT 11:29De fato, ao analisar o legado de Berta Loran, percebemos que sua presença na mídia não foi apenas entretenimento, mas uma ferramenta de educação social; portanto, sua influência continua relevante para novos criadores que buscam integrar história e humor de forma consciente.
Rodrigo Sampaio
setembro 30, 2025 AT 12:36Galera, vamos aproveitar a energia que Berta deixou como um combustível para nossos próprios projetos artísticos; é hora de transformar lembranças em ação, criar conteúdo que reverbere nas comunidades e fazer aquele barulho que faz a diferença!
Bruna Matos
setembro 30, 2025 AT 13:43Berta Loran, com sua trajetória marcante, simboliza a fusão entre resistência histórica e humor popular, demonstrando que o riso pode ser arma poderosa contra opressões.
Sua fuga da Polônia nazista não só salvou sua vida, mas também trouxe ao Brasil um legado cultural que ainda reverbera nas telas atuais.
Ao chegar ao Rio ainda criança, ela rapidamente assimilou as nuances da vida urbana, transformando dificuldades em material cômico de alto impacto.
Nos anos 80, ao integrar a Zorra Total, Berta quebrou barreiras de gênero ao ocupar espaços antes dominados por homens, o que representou um marco cultural para a sociedade brasileira.
Além disso, sua participação na Escolinha do Professor Raimundo impulsionou uma nova geração de roteiristas que passaram a incluir críticas sociais sutis em suas piadas.
O fato de ter interpretado mais de dois mil personagens comprova não apenas sua versatilidade, mas também sua disposição incansável de trabalhar até os limites da exaustão.
Sua contribuição às comunidades judaicas, através de peças teatrais, reforçou a importância da preservação de identidade étnica em um país multicultural.
É inegável que Berta ajudou a mudar a percepção do público sobre o humor feminino, permitindo que mulheres conquistassem espaço sem precisar se adaptar ao molde masculino tradicional.
A criação do fundo de apoio a jovens artistas judeus, anunciada após sua morte, evidencia seu compromisso com o futuro da arte e da educação cultural.
Essa iniciativa serve como modelo de responsabilidade social que outras personalidades do entretenimento deveriam replicar amplamente.
Por outro lado, a mídia ainda tende a simplificar sua história, reduzindo seu impacto a meras anedotas de TV, o que é um desserviço à memória coletiva.
Portanto, cabe a nós, enquanto público crítico, ampliar o discurso e reconhecer a complexidade de sua obra.
Ao revisitar seus momentos icônicos, percebemos que cada risada carregava um subtexto de resistência contra qualquer forma de tirania.
Essa camada de significado eleva seu trabalho a patamares quase acadêmicos, merecendo estudos aprofundados nas universidades.
Em síntese, Berta Loran não foi apenas uma comediante; foi uma arquiteta de narrativas que desafiou normas e inspirou transformações socioculturais duradouras.
Que seu legado continue a iluminar os caminhos de quem busca, através do humor, fazer diferença no mundo.
Fred docearquitetura
setembro 30, 2025 AT 14:49Eu realmente sinto que devemos manter viva a memória da Berta não só como artista, mas como símbolo de superação, porque a história mostra que resistência se traduz em criação. Não podemos deixar que seu legado seja apagado por narrativas superficiais; precisamos destacar seu papel na abertura de espaço para mulheres no humor. Portanto, vamos promover projetos que celebrem essa luta e eduquem novas gerações sobre seu valor. É hora de agir, não só de lembrar.
Maysa Horita
setembro 30, 2025 AT 15:56É muito bom ver todo esse reconhecimento pela Berta, realmente merece toda a homenagem. Quando a gente olha pra trás, dá pra entender o quanto ela influenciou a cena atual. Vamos seguir celebrando esse legado.